Ela se vestiu de homem para viajar livremente no século 19
A trajetória de Isabelle
Eberhardt foi incomum do começo ao fim. De origem russa, a escritora e
jornalista suíça morreu com apenas 27 anos de idade na Argélia, ao norte da
África, por conta de uma inundação. Filha ilegítima de dois anarquistas, ela
nasceu em 1877 em Genebra, e desde muito nova já manifestou interesse pelas
coisas que mais fez ao longo da curta vida: viajar, escrever e, acima de tudo,
ser livre.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhttnF_H8uMx5GhyevvAJMuaGEen9LKhfldOe1blXjS-EJitxSVYv0lWkHvIUsT4Tm5RLl87coG-lSezlmru0qlt6tXjPq2HqTAY4o-yHsTW-v9Ar88KvThg1e1fOTr7PhUjoGNi0zZVXY/s1600/Cultura+Coletiva.jpg)
Na época em que Isabelle viveu, porém, esses três interesses
eram de fato incomuns (e indesejados) na vida de uma mulher – principalmente
para quem, como ela, tinha o sonho não apenas de viajar, mas de viajar sozinha
pelo mundo.
A jovem se mudou para a Argélia aos 20 anos, e foi ao redor
deste país que passou por grande parte de suas aventuras. Ela teve experiências
sexuais bastante ousadas para o seu tempo, aprendeu vários idiomas diferentes,
escreveu reportagens políticas, contos e livros e também viajou muito (algo
que, sim, ela conseguiu fazer sozinha).
Isabelle fez coisas mais corajosas ainda para as mulheres de
sua época, como beber e fumar haxixe. Ela se converteu ao islamismo e entrou na
seita Qadiriyya Sufi, que ajudava os
pobres e se opunha fortemente à colonização francesa na Argélia. Além de lhe
levar em várias viagens, a convivência com o grupo acabou influenciando grande
parte das reportagens que a jovem escreveu – o que não deixou as autoridades
europeias muito felizes.
Mas como será que ela
conseguiu fazer tudo isso?
Isabelle era um ''espírito livre'' e isso justifica grande
parte de seus desejos e conquistas. O que teve influência prática em sua vida,
porém, é o fato de que ela vestia roupas masculinas desde muito jovem,
estimulada pelo pai.
O fato com certeza teve a ver com a abertura um pouquinho
maior que ela encontrou ao viver a vida da forma como propunha. Para isso, ela
adotou o nome de Si Mahmoud Saadi.
''Isabelle Eberhardt,
escritora, Mahmoud Saadi, aventureira
mística do Saara'' é o que está escrito, justamente por isso, em sua lápide até
hoje.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlhQPQQe_JFVtPzcZxZdfW5cZ1tvhRauOKy_qPUAODUiES3_HHoKTPPPUZeOLGaSsY-D0oO4r6uKFbNitgBm28NVcgtaPD6ZmKropjkPEenzJoq5vST7xuCToOO9LjUJEQvKhPia1nQ8E/s1600/Cultura+Coletiva.jpg)
Por conta das reportagens ousadas que escreveu, porém, a
viajante chegou a ser perseguida por um assassino contratado pelos franceses.
Felizmente, ela conseguiu escapar, e mais tarde implorou que o contraventor não
fosse preso. Ela mesma, no entanto, acabou sendo proibida de circular pela
região.
Seu casamento com um grande amor, o sargento argelino Slimane Ehni, felizmente resolveu a
questão – e ela teve um acesso inédito a todas as esferas da sociedade local.
Isabelle continuou, portanto, viajando e fazendo suas reportagens sobre as
crueldades do colonialismo.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjjDH7qqs9Y4s7NhVKJUOURQaLt6vmzq8xF_wMV58FF3VaNUjsIVEKyd54SJvrpEGCdUhPVATH2I7Z7699tWHwrNSGnIFVZNVeKlITSb7VieExwU4fVm5Ux9Ol9ZoU5GXPttjkNm89xyI/s1600/Cultura+Coletiva.jpg)
Praticamente inacreditável na época em que ela viveu, sua
trajetória deixa muita gente impressionada até hoje. No ano passado, inclusive,
uma ópera inspirada em sua vida foi inaugurada nos Estados Unidos, com o nome
de ''Song from the Uproar'' (''Música do Tumulto'', em tradução livre). Na capital
da Argélia, Algiers, há até hoje uma rua com o nome da viajante.