Para RuPaul, principal lição de reality de drags é fazê-las aprenderem a se amar
RuPaul’s Drag Race é uma série de televisão que documenta a busca da mais famosa das drag queens pela ''próxima estrela drag dos EUA''. O icônico RuPaul Andre Charles, 56 anos, vem desfrutando de sucesso global desde os anos 1990 com programas de televisão, participações no cinema e vários álbuns lançados, mas foi sua capacidade de criar conexões entre os públicos LGBT e simpatizantes que o catapultou para o status de entidade midiática.

No programa, Ru é anfitrião, mentor e até musa inspiradora para as drag queens, que competem pelo título por meio de uma série de desafios que exigem desempenho artístico polivalente, bateção de cabelo e muita maquiagem. A série, campeã de audiência e que conta com uma base fiel de fãs ao redor do mundo, iniciou sua oitava temporada no canal pago Comedy Central no Brasil e o Cultura Coletiva entrevistou o astro apresentador da atração.
O que você faz para
manter o programa revigorado?
Isso acontece por causa das participantes. Elas são a
verdadeira alma do programa. A energia e o frescor delas é o que têm mantido a
força durante todo esse tempo. É interessante conhecê-las porque muitas vêm de
cidades do interior dos EUA, onde tiveram que lutar batalhas pessoais e
demonstrar que podem viver sob suas próprias regras. Então, quando elas chegam
à série, já são super-heroínas, e é isso o que as torna especiais. Claro que,
depois disso, elas passam pelo que chamo de morte e renascimento, quando vão
começar a fazer coisas inéditas – e é aí quando elas enfrentam um ponto de
virada em suas vidas.
A comunidade LGBT
ainda enfrenta muitas batalhas. Qual o preocupa mais?
A mesma que todos os seres humanos precisam enfrentar, que
não é exatamente por um direito gay, mas por um direito humano, e todos
deveriam lutar por isso. Devemos descobrir que temos mais em comum uns com os
outros do que achamos. O maior mal entendido entre nós é acreditarmos que somos
separados uns dos outros ou que somos diferentes. Somos uma entidade única. As
pessoas esquecem disso muito facilmente.
Você acha que deve
haver alguma mudança de leis?
Muitas. Mas preciso caminhar no mesmo ritmo do resto das
pessoas. Quando eu tinha 12 anos, me sentia um ET porque ninguém falava de
problemas reais. Soa hipócrita quando dizem que algumas pessoas podem fazer
algumas coisas e outras não. Essas separações são ilusões decorrentes do ego.
Temos que começar a resolver isso.
Você mencionou
separações, e há quem queira até erguer muros…
Sim, é verdade. Mas devo dizer que esse é um muro emocional.
Ele apenas diz respeito ao ego de alguns que sentem que, por morarem de um
lado, são melhores que o outro lado, e não é assim.
Como você mantém sua
mente sã? Você medita?
Faço isso ao me manter fiel ao que está em meu coração. E
sim, isso se consegue por meio da prática da meditação. É preciso que cada um
pegue um tempo para encontrar o equilíbrio e a clareza em tudo o que está sendo
vivido. Acredite ou não, eu me perco, passo por momentos de confusão, mas o
ponto é sempre retornar ao centro de uma forma compassiva.
''Ru Paul’s Drag Race'' começou como um programa de nicho e se tornou cada vez mais popular. A que você
credita essa evolução?
Ele começou bem pequeno em um canal pago americano chamado
Logo TV e depois nós mudamos para o VH1, que atinge 93 milhões de lares, enquanto
o Logo era restrito a 26 milhões, pois só estava disponível nos pacotes mais
caros. O que acontece muito é que pessoas que têm esse canal nem sabem que o
tem (risos). Paralelamente a isso, muitos descobriram o reality show na Netflix e em outros canais que começaram
a transmiti-lo e daí passaram a segui-lo. Isso também reflete que as mentes
mais jovens têm uma visão muito mais aberta da sexualidade, elas não pensam
mais nas coisas como opinião de um ou de outro, mas como uma variedade de
possibilidades e que eles não precisam brigar uns com os outros.
Que mensagem você
deixa para as mentes mais jovens?
A mesma desde o começo: aprender a se amar é o mais importante
que você pode fazer na sua vida. Saiba quem você é, o que o faz feliz, o que o
move, o que o motiva a sair da cama e ir atrás disso. O que me motiva é o amor,
as risadas, a beleza, a dança e a atuação. Descobrir essas motivações pessoais
é o que nos faz humanos.
O que significou para
você ganhar um Emmy?
Foi importante para quem trabalha na série. O reconhecimento
abre muitas portas para essas pessoas e as coloca em um lugar melhor para
aspirar a sonhos maiores. Sinto orgulho porque elas ficam felizes. Como
artista, sempre trabalho fora da caixa e nunca fiz algo por prêmios. Meu maior
prêmio são as 114 drag queens que deixaram cidadezinhas para se tornarem
artistas internacionais. É um orgulho para mim impulsionar as carreiras delas.