É possível contrair zika, dengue e chikungunya ao mesmo tempo
As arboviroses dengue,
zika e chikungunya são transmitidas pelo mesmo mosquito, o Aedes
aegypti. Mas, seria possível contrair os três vírus ao mesmo tempo?
Segundo um estudo publicado na revista Nature
Communications, a resposta é sim. Com apenas uma picada, um mosquito
poderia transmitir as três infecções. A coinfecção, apesar de rara e pouco
estudada, seria comum em áreas de surto.
O estudo
Em laboratório, a equipe de pesquisa da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, infectou mosquitos
com múltiplos tipos de vírus para entender o mecanismo de transmissão de mais
de uma infecção com apenas uma picada. Eles descobriram que o Aedes aegypti
consegue transmitir a dengue, o zika e a chikungunya simultaneamente.
Os pesquisadores esperavam que algum vírus se mostrasse mais
dominantes que os outros, eliminando-os do mosquito e tornando-os não mais
transmissíveis para os humanos. ''É interessante como os três vírus
transmissíveis pelo Aedes aegypti replicaram em conjunto no corpo do mosquito'',
disse Claudia Rückert, principal
responsável pelo estudo, ao site especializado Science Daily.
Infecções múltiplas
''Com base nos conhecimentos sobre virologia e entomologia,
pensávamos que os vírus iriam competir entre si e, de alguma forma, algum iria
se sobrepor'', explicou Greg Ebel,
diretor do laboratório da universidade. ''De certa forma, eles requerem quase os
mesmos recursos, o que pode gerar competição entre eles. Por outro lado, todos
esses vírus têm mecanismos para suprimir a imunidade do mosquito, que poderiam
levar a sinergia, ou seja, uma ação simultânea entre eles''.
Os resultados foram bastante surpreendentes, de acordo com
os cientistas. No entanto, não há razão para acreditar que as infecções
conjuntas são mais severas do que se alguém fosse infectado por um vírus de
cada vez. ''Infecções duplas em humanos são bastante comuns e podem ser até mais
comuns do que imaginamos. Na teoria, o mosquito pode infectar alguém com
múltiplos vírus de uma só vez'', alertou Claudia.
Complicações
Qual seria o risco para pessoas diagnosticadas com uma
coinfecção? Apesar de não existirem evidências clínicas sobre as consequências
de uma infecção conjunta, os estudos sobre o tema apresentam algumas
contradições. Enquanto uma pesquisa realizada na Nicarágua observou amplos
casos de coinfecções, sem identificar mudanças significativas no tratamento e
hospitalização, outras pesquisas mostraram que podem haver complicações
neurológicas.
''Podem existir indicações, mas os efeitos de uma coinfecção
ainda são bastante desconhecidos'', afirmou Claudia. Além disso, as coinfecções
podem, muitas vezes, serem subdiagnosticadas. ''Depende muito de como o
diagnóstico é feito e do que os médicos avaliariam no momento. Eles podem não
notar que existe outro vírus presente e isso pode levar a má interpretação da
gravidade da doença''.
Casos em surtos
O Aedes aegypti se reproduz com maior frequência em áreas
tropicais e subtropicais. À medida que os vírus – e os mosquitos – continuam a
emergir em novas regiões, a probabilidade de coinfecção por zika, chikungunya e
dengue, pode aumentar. Em contrapartida, a frequência da coinfecção e suas
implicações clínicas e epidemiológicas ainda precisam de mais estudos.
De acordo com o estudo atual, o primeiro relato de
coinfecção dos vírus da dengue e chikungunya foi em 1967. Mais recentemente,
infecções conjuntas de zika e dengue, zika e chikungunya e dos três vírus
juntos foram relatados durante vários surtos, incluindo os mais recentes na
América do Sul e América do Norte.
Pesquisas futuras
Os cientistas da Universidade
do Colorado estão agora analisando mais de perto o que acontece quando os
mosquitos são infectados com múltiplos vírus. Eles pretendem explorar como uma
coinfecção afeta a evolução dos vírus dentro do mosquito.
''Estudaremos como essas interações, entre vírus e mosquito,
mudam quando há dois vírus, o que é transmitido de um mosquito coinfectado e
como isso difere de um mosquito infectado com apenas um vírus'', disse Claudia.