O câncer de Marcelo Rezende: otimismo ajuda em dura batalha
No domingo, 14, o apresentador Marcelo Rezende, 65 anos, revelou em entrevista para o ''Domingo Espetacular'',
da Rede Record, que está com câncer
no pâncreas e no fígado. Rezende relatou que os sintomas apareceram há apenas
um mês, quando começou a sentir cansaço e falta de apetite. Depois de uma
bateria de exames, veio o diagnóstico: um tumor no pâncreas que se espalhou
para o fígado.
Além de iniciar um tratamento, o apresentador decidiu fazer
um retiro espiritual de sete dias para se fortalecer emocionalmente. A decisão
veio após a alta na quimioterapia. Na mesma postagem, Rezende diz já se sentir
curado, graças à fé. ''O importante é que estou aqui orando firme e tenho
certeza de que já estou curado'', afirmou em vídeo publicado no Instagram.
Otimismo ajuda
Especialistas acreditam que o otimismo, de fato, ajuda no
tratamento. ''Embora não signifique que a pessoa vai se curar ou não, é muito
nítida, na prática clínica do tratamento de doenças graves, a influência
positiva do otimismo na evolução do prognóstico'', diz Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião de fígado e aparelho digestivo e
professor livre-docente pela Universidade
de São Paulo (USP).
Para Felipe José
Fernández Coimbra, cirurgião oncologista e diretor do Departamento de Cirurgia Abdominal do A.C. Camargo Cancer Center, ''quando qualquer pessoa é diagnosticada
com uma doença grave, existem várias formas de enfrentar a situação: negação,
pessimismo, otimismo, racionalização. Embora não existam estudos sobre o
assunto, na prática a gente vê que ser positivo é sempre bom. Essa atitude
facilita a exposição ao tratamento, que não é fácil e ajuda na hora da
internação hospitalar, por exemplo''.
Tumor agressivo
No entanto, também é necessário ter cautela. O câncer de
pâncreas é considerado um tumor agressivo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), no
Brasil, o tumor é responsável por cerca de 2% de todos os tipos de câncer
diagnosticados e por 4% do total de mortes pela doença. A taxa de sobrevida
geral é de 5% a 10%. A localização do
órgão, as características do tumor – sua estrutura em estroma (células e
proteínas que ‘protegem’ as células
tumorais dos remédios) e a predominância do diagnóstico tardio dificultam o
tratamento.
O pâncreas é um órgão localizado na parte de trás da região
do abdômen. Ao seu redor, estão várias estruturas importantes, como vasos que
levam e trazem sangue para o intestino, fígado e estômago. Suas funções principais
são produção de insulina – hormônio que controla a glicose do sangue – e de
enzimas que ajudam na digestão dos alimentos.
O câncer de pâncreas costuma ser dividido em dois grupos: os
tumores exócrinos, que crescem nos dutos responsáveis pela produção de enzimas
que ajudam na digestão, e os endócrinos, que se formam em células especializadas
na produção de hormônios, como a insulina. Entre os exócrinos, está o
adenocarcinoma, tipo responsável por cerca de 90% dos casos de câncer de
pâncreas no mundo. Isso acontece por dois motivos: as células cancerígenas
tendem a se multiplicar de maneira rápida e não há exames preventivos para a
detecção precoce do tumor.
No grupo dos endócrinos, está o carcinoma neuroendócrino,
tipo que atingiu Steve Jobs,
fundador da Apple. Esse tipo de tumor costuma ter um
desenvolvimento mais lento, o que acaba aumentando a sobrevida do paciente.
Como tem origem nas células especializadas do órgão, ele pode interferir
diretamente na produção de hormônios como a insulina e o glucagon (ambos
relacionados ao diabetes).
Um dos agravantes da doença é o alto risco de metástase,
mesmo nos estágios iniciais da doença, principalmente nos gânglios ao redor do
pâncreas, peritônio e fígado. Rezende teve metástase no fígado. Segundo
Coimbra, o órgão é o lugar mais comum de metástase porque uma de suas muitas
funções é filtrar o sangue que vem do abdômen. Isso faz com que ele receba
células oriundas de outros órgãos, como pâncreas.
Segundo Ferraz Neto, quando há metástase em adenocarcinomas,
há pouca chance de sucesso. ''Mas, se houver diagnóstico precoce, que é incomum,
é possível. Existe a possibilidade de cura''.
Por outro lado, se o tumor for um carcinoma neuroendócrino,
a possibilidade de cura ou de vida em longo prazo é grande, mesmo quando há
metástase.
Fatores de risco e
sintomas
Os principais sintomas da doença são: emagrecimento, perda
de apetite, aparecimento ou piora do diabetes, icterícia (pele e mucosa
amareladas), dor abdominal em faixa, dor nas costas, vômitos, dores de cabeça,
sudorese e mal-estar. Esses sintomas, comuns a várias condições, contribuem
para a alta incidência de diagnóstico tardio, já que os pacientes demoram a
procurar o médico ou se consultam com médicos de outras especialidades, que
demoram para identificar o tumor.
Os fatores de risco para a doença são tabagismo, diabetes,
pancreatites e histórico familiar. ''O segredo do diagnóstico e o segredo do
tratamento é fazer exame sempre. Qualquer pessoa que se submete a um check-up
frequente tem chance de receber um diagnóstico precoce'', ressalta Ferraz Neto.
Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), todos os anos são registrados quase 145.000 novos
casos de câncer de pâncreas e cerca de 139.000 mortes. Sem um diagnóstico
precoce eficiente, a doença chega a vitimar, em até cinco anos, 85% dos
pacientes que desenvolvem o tumor. A incidência é mais comum após os 50 anos de
idade e quase duas vezes mais frequente em homens do que em mulheres – e de
duas a três vezes mais frequente entre fumantes.
Diagnóstico e
tratamento
O diagnóstico é feito por meio da avaliação dos sintomas,
seguida de exames como tomografia, ressonância e eco-endoscopia, além de
análises mais específicas como marcadores no sangue e biópsia.
As opções de tratamento dependem diretamente do grau do
tumor. ''Hoje em dia, o tratamento é personalizado. Então, para cada situação,
tem um tratamento mais indicado. De maneira geral, cada tratamento tem um
objetivo. A cirurgia trata a doença localizada, fazendo uma limpeza na região.
A quimioterapia circula no corpo todo e atinge todos os pontos de tumor ao
mesmo tempo. A radioterapia também tem uma função de tratamento localizado.
Mas, normalmente, todos esses são tratamentos complementares'', explica Coimbra.
Quando o tumor é localizado, as opções são: começar pela
quimioterapia, que atinge o tumor e as células circulantes. Em seguida, a
cirurgia, para retirar o que sobrou do tumor. Esse tratamento pode ser seguido
de mais quimioterapia ou radioterapia, dependendo da necessidade do paciente.
Se o tumor já tiver se espalhado (metastático), a prioridade
é combater todos os pontos ao mesmo tempo. Neste caso, começa-se pela
quimioterapia e, dependendo da resposta (o tumor pode regredir, estabilizar ou
o tratamento pode não apresentar efeito), são avaliadas outras opções.
Segundo Coimbra, atualmente, quando é feita a cirurgia e os
tratamentos combinados, a sobrevida sobe para 20% a 30% e mesmo em casos
avançados existe a possibilidade de sobrevida grande ou controle da doença em
longo prazo.
No entanto, um tratamento tem duração média inicial de dois
a três meses, com reavaliação ou outro tratamento na sequência. Já para dizer
se uma pessoa está ''curada'', são necessários pelo menos cinco anos desde o
início do tratamento.
Entre os cuidados que o paciente deve ter, então, estão
manter-se bem orientado, buscar informação com profissionais especializados, se
manter bem nutrido, seguir atividade física leve e procurar contar com o apoio
da família e dos amigos.