Dono de bicicleta condena tatuagem em testa de adolescente: 'Não consegui dormir'
O ambulante Ademilson
de Oliveira, de 31 anos, dono da bicicleta que seria pivô da agressão ao adolescente que teve a testa tatuada ↗ em
uma pensão em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, condenou a atitude do
tatuador e seu comparsa. ''Não consegui dormir pensando nisso. Fui dormir
com medo, meu coração apertado, chorei nessa noite'', afirmou Oliveira, que
é deficiente físico e vive de vendas e do dinheiro que pede no semáforo.
O tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis e o vizinho Ronildo Moreira de Araújo dominaram o adolescente e o amarraram a uma cadeira. Maycon escreveu ''Sou ladrão e vacilão'' na testa do adolescente. Os dois foram presos em flagrante por tortura nesta sexta-feira (9). Eles podem ser condenados de três a oito anos de prisão.
Ele contou que não estava no local quando o adolescente de
17 anos foi flagrado pelos agressores mexendo em uma bicicleta. ''Quando eu
cheguei eles falaram que ele estava tentando roubar minha bicicleta. Fiquei
pasmado, estou em choque até agora. Se eu estivesse aqui não teria deixado. Que
dessem uns tapas na orelha dele e mandasse embora, ou chamassem a polícia. Não
precisava fazer uma barbaridade dessas''.
Segundo Oliveira, a bicicleta está quebrada. ''Se
pegarem o moleque com isso escrito na cabeça matam o moleque. E a mãe dele,
como é que fica?''.
'Meu filho não é
bicho'
A mãe do adolescente ficou revoltada com a agressão: ''Meu filho não é boi, não é animal. Ele não é bicho''. Ela está
preocupada com a recuperação do filho, que estava desaparecido desde 31 de maio
até sofrer a agressão. ''A gente precisa tirar isso do rosto dele porque
ele não é bicho. Muita gente está julgando ele, mas ninguém conhece a história
dele. A única coisa que a gente quer é Justiça''.
A mãe disse que não conseguiu até agora assistir ao vídeo em
que o filho é tatuado na testa. ''Infelizmente eles vão pagar pelo erro
deles. Só tenho pena da família deles. Quando eu recebi o vídeo eu não consegui
assistir. Eu vi a foto e isso acabou comigo, acabou com a família. Como ele vai
sair por aí?''.
A mãe espera conseguir tratar a dependência química do filho. ''Ele precisa de ajuda, de tratamento, a gente não tem condições de pagar, a gente é pobre. Eu sou auxiliar de limpeza e estou desempregada. Eu estou acabada, ele pode ser o que for, mas o ser humano não tem direito de fazer isso. Ele é uma criança, ele é doente, não precisa de críticas, precisa de ajuda, de tratamento''.
A mãe espera conseguir tratar a dependência química do filho. ''Ele precisa de ajuda, de tratamento, a gente não tem condições de pagar, a gente é pobre. Eu sou auxiliar de limpeza e estou desempregada. Eu estou acabada, ele pode ser o que for, mas o ser humano não tem direito de fazer isso. Ele é uma criança, ele é doente, não precisa de críticas, precisa de ajuda, de tratamento''.
Ao Cultura, o
dono da bicicleta disse que irá depor contra o tatuador. ''Não concordo com o que foi feito. Foi uma barbaridade sem tamanho''.
O crime
A tortura teria ocorrido na pensão onde os dois homens alugaram um quarto. Eles foram indiciados pelo crime. Eles alegaram que queriam dar uma ''punição'' ao menino sob a alegação de que ele tentou furtar a bicicleta de um deficiente físico.
De acordo com o boletim de ocorrência, Maycon confirmou à
polícia ser ''o tatuador que aparece nas imagens que circulam nas redes
digitais''. Ronildo afirmou ''ser o responsável pela gravação das
imagens''.
O garoto estava desaparecido desde o dia 31 de maio. Acabou
sendo encontrado por amigos e pela família no sábado (10), com o cabelo
raspado. No mesmo dia, a Justiça converteu a prisão em flagrante para
preventiva.