Conheça o drama das mães que vivem com os bebês na penitenciária
A pequena Lorena só existe há um mês, mas já mudou a vida da
mãe, a detenta Camila Fernanda de
Oliveira Correia, 26, uma das presas do pavilhão 2 da Penitenciária
Feminina de Pirajuí, interior de São Paulo. Nas drogas desde os 15 anos,
condenada por tráfico e associação para o tráfico, reincidente, mãe de uma
filha de 12 anos que não criou, Camila experimenta pela primeira vez a sensação
de dar banho, trocar, fazer dormir e amamentar a "bonequinha". Ela também
conta as horas. "Deu seis meses, eu sei que vou ter de entregar e ela vai
embora. Só me consola ela não ir para adoção. A Lorena vai ficar com minha mãe".

Como ela, outras 11 detentas estão na ala de amamentação do
presídio, com bebês de colo ou prestes a dar à luz. Há ainda outras 27 grávidas
no pavilhão e todas vivem o drama da separação dos filhos, angústia que ronda a
maioria das detentas.
Cerca de 70% das 1.460 presas da unidade têm filhos menores
de 12 anos; do total, 451 são presas provisórias. A mulher gestante presa tem o
direito de ficar com o bebê durante o período de aleitamento materno, de 180
dias, garantido pela Constituição e pela Lei de Execução Penal.
Já o artigo 318 do Código
de Processo Penal, alterado pelo Estatuto
da Primeira Infância, permite que o juiz autorize presas em regime
provisório a ficar em prisão domiciliar para cuidar dos filhos menores de 12
anos, quando não têm outra pessoa que o faça.
A lei foi usada em benefício de Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, ambos presos
provisórios, acusados de corrupção e lavagem de dinheiro.
No caso de Camila, ela já é condenada, mas acha que mesmo
assim deveria ter uma chance. "Eu queria uma oportunidade igual à dela
[Adriana] para sair e cuidar da bebê e, quem sabe, me aproximar da minha outra
filha, Raíssa".
A detenta, que estudou até o 2º ano do ensino médio, conta
que não conseguiu cuidar da primeira filha. "Eu vivia na droga e era muito
novinha, não cuidei, não amamentei, nunca dei um banho. Minha sogra pegou e
criou. Agora vejo que foi um tempo perdido".
Já Jaquelina
Francisco Marques, 23, é mãe de Adrian Miguel, 2, e Midian Vitória, 4, e
está prestes a dar à luz Aruna Rebeca. Ela não tem companheiro.
Na quinta-feira, a gestante esperava a hora de seguir para o
hospital. "Estou tendo dilatação, acho que logo nasce. A primeira filha,
Midian, eu ganhei aqui, há quatro anos. Tenho também o menininho, de 2, e
engravidei quando fui embora [libertada]".
Ela tinha sido absolvida da acusação de tráfico, mas o Ministério
Público recorreu e foi condenada a 5 anos. "Queria muito que essa filha
nascesse fora, por isso estou com recurso. Como a moça lá do Rio conseguiu,
estou correndo atrás".
Jaquelina foi presa aos 19 anos, teve a filha na prisão e
saiu em liberdade, engravidou e teve o menino. Com o julgamento do recurso,
voltou a ser presa, grávida.
A jovem prefere não pensar que terá de entregar a criança
aos 6 meses. Desde que foi presa, quase não vê os filhos. "Não aguento
ficar longe deles." A mãe de Jaquelina lava carros e ganha R$ 600 por mês,
mas está atrás de advogado para tentar tirá-la da prisão.
"Minha avó vive da pensão do meu avô e já cuida das
crianças. Quando ganhei minha filha, foi ela quem veio buscar. Não tem como
falar o que sinto, não tem palavras, ficar longe dos meus filhos é doído
demais".
Rotina
Na ala das parturientes e lactantes, cada presa tem sua cela
com cama, banheiro, armário e o bercinho. Juliete
Laurindo Vieira, 27, se distrai arrumando as roupas da pequena Sofhia, de 4
meses, para não pensar na separação.
Como aconteceu com o filho Artur Henrique, 5, em dois meses
virá alguém buscar o bebê. "O menino está com minha sogra. Sou amasiada,
mas o pai dos dois também está preso. A gente caiu no mesmo B.O., que é
tráfico. Meu filho veio me ver uma vez só e gostou tanto da bebê que queria
levar ela embora".
Juliete está presa há um ano e dois meses e fez o pré-natal
todo na penitenciária. "Aqui não é um lugar para ter nenê, mas, pelo
menos, ela está comigo. Não me vejo longe dela, não sei como vai ser".
Com ensino médio completo, trabalhou sete meses na fábrica
de cigarros de palha artesanal para reduzir a pena. "Apelei da minha
sentença e espero sair antes, para ficar perto dos meus filhos. Como meu marido
está preso, estamos fazendo de tudo para que eu saia".
Ela contou que as presas ficaram revoltadas
quando a Justiça autorizou a saída de Adriana. "Muitas aqui não têm a
mesma oportunidade só porque a gente é mais humilde. Temos de pagar pelos
erros, mas ela também errou e está em casa com os filhos".