Venezuela proíbe que redes de TV transmitam protestos ao vivo
O governo da Venezuela proibiu as redes de televisão de
realizarem coberturas ao vivo dos protestos. Segundo denúncias de funcionários
da Globovisión, o órgão regulador
das telecomunicações no país ameaça constantemente tirar do ar os canais que
transmitirem imagens das manifestações sem declarações oficiais de membros do
governo ou usarem palavras como ''ditadura'' e ''desobediência'' em sua programação.
''A ameaça é diária'', afirmou um funcionário da Globovisión ao jornal argentino La Nación, que pediu para não ser
identificado. ''É a Conatel que decide a cobertura'', acrescentou, referindo-se à
Comissão Nacional de Telecomunicações,
órgão regulador do setor na Venezuela.
Com a pressão do governo, os protestos da oposição, cuja
repressão já deixou quase 60 mortos, recebem menor destaque na televisão do que
outros momentos de tensão política.
Nas poucas vezes em que o canal Globovisión transmite imagens ao vivo dos protestos, a cobertura
não pode durar mais de um minuto e tem que, obrigatoriamente, vir seguida de
uma declaração oficial da administração de Nicolás
Maduro. Também segundo o La Nación,
nos outros principais canais de televisão privados, as reportagens muitas vezes
são editadas depois de prontas para suprimir palavras como ''repressão'' ou
imagens que mostram o choque entre os guardas e os manifestantes.
O governo, que afirma ser vítima de um complô organizado
pelos grandes meios de comunicação internacionais, já realizou reuniões com
seus representantes para pedir moderação na cobertura.
Protestos
No domingo (28/05), a oposição anunciou que vai
aumentar ainda mais a pressão nas ruas contra o presidente Maduro para impedir
a Assembleia Constituinte convocada
pelo chefe de Estado. As manifestações já duram 58 dias e deixaram nove mortos,
segundo a Justiça venezuelana.
A coalizão opositora Mesa
da Unidade Democrática (MUD) convocou para esta segunda-feira uma marcha
até a Defensoria do Povo, no centro
de Caracas, destino previsto em manifestações anteriores que acabaram
bloqueadas por militares e policiais em meio a bombas de gás lacrimogêneo. ''Todas as nossas lideranças estão claras: se permitirmos que se instaure essa
fraude que querem disfarçar de Constituinte, a Venezuela estará perdida'', disse
Freddy Guevara, vice-presidente do
Parlamento, único poder controlado pela oposição.
Na terça-feira, os deputados vão a embaixadas e consulados
de países que tiverem expressado preocupação com a crise venezuelana e farão
uma sessão especial em homenagem aos mortos nos protestos. Para a quarta-feira
está prevista outra mobilização até a chancelaria, no centro da capital.